segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Resenha do Blog Up Brasil

“Estigmas da Luz” vem fazendo barulho em diversas redes sociais desde o seu lançamento, no segundo semestre do ano passado, e foi escrito pela brasileira Liana Cupini, que gentilmente me presenteou com um exemplar de sua obra.

Primeiro volume de uma série chamada Luz e Sombra, “Estigmas da Luz” traz a história dos irmãos gêmeos Aurora e Tomas. Com 19 anos de idade, eles são filhos de um brasileiro descendente de indígenas e uma americana. Diagnosticados com uma doença de pele rara que pode levá-los à morte, os dois são internados em uma clínica por dois anos, sendo controlados pelo ambivalente Dr. Kuan, homem misterioso que limita a relação dos irmãos com o mundo exterior. No entanto, o médico não poderia prever que o fim de seus cuidados viria mesmo de dentro da clínica e na figura do jovem Fred, um Sentinela que explica os reais motivos de estarem naquele lugar. Absorto pela descoberta, o jovem decide fugir levando junto a sua irmã.


Dotado de um estranho poder que lhe permite mudar seus traços físicos de acordo com sua vontade e uma missão que pode envolver todo o futuro da humanidade, Tomas e sua irmã se abrigam em uma estranha ilha - a ilha do Sentinelas, onde conhecem três novos personagens fundamentais a história: Sarah, Lucas e Gale. Sem maiores spoilers da história, estes jovens ocupam posições de destaque na ilha e são fundamentais no processo de descoberta do dom de Aurora. Eu senti uma influência bem forte de "Lost" nesse momento. Algo como aquela vila Dharma, que depois foi destruída, sempre me vinha à mente ao ler as passagens da ilha dos Sentinelas. Gale, com toda a sua força e carisma, conquista Aurora (cujo apelido, estranhamente, é Lola), mas a paixão proibida entre os dois fica completamente para escanteio quando Yuki entra na história: filho do dr. Kuan, este médico recém-formado é o encanto em pessoa - doce, confiante, seguro do que sente. Eu, pessoalmente, virei team Yuki (isso já existe, Liana, rs?).


A narrativa é ágil e bem desenvolvida, com um vocabulário bem coloquial. As páginas seguem-se umas as outras, com muitas reviravoltas e descobertas que nos deixam ligados à história. A leitura flui sem se tornar enfadonha mesmo quando aborda histórias de nefilins e tópicos científicos e históricos. No entanto, apesar de terminar de forma gostosa, faltou aquela inquietação final que nos deixa aflitos pela continuação da série. Na verdade, percebemos que se trata de uma série somente pela informação presente na contracapa do livro. Mas você deve estar se perguntando o por quê de uma cotação média para um livro até agora repleto de elogios...


Como muitas resenhas já apontaram esse problema, vou direto ao ponto: o livro é tão repleto de erros de ortografia e gramática que a leitura chega a ficar difícil em alguns momentos. Temos que trabalhar a noção de que estamos operando em um mercado editorial e que, para se inserir nesta lógica comercial, o autor deve se agarrar com unhas e dentes àquilo que diferencia seu trabalho de outros tantos escritores e acrescenta pontos positivos à sua obra. Erros recorrentes de pontuação, falhas de digitação, tudo isso prejudica a obra final, e é triste ver uma trama tão original sendo prejudicada por algo assim.


Até a metade do livro, reparei que nenhum vocativo era separado do resto do período com vírgulas. O que isso causa? Quebra no ritmo das falas dos personagens, para começo de conversa. Posteriormente, uma tremenda irritação no leitor e a certeza que a revisão feita no texto antes do mesmo chegar à gráfica foi, no mínimo, desleixada. Você deve estar pensando “Ah, nossa, tudo isso por causa de vocativos! O que diabos é isso, para começo de conversa?”. Vamos lá: o vocativo é um termo de natureza exclamativa, que tem como função chamar alguém ou alguma coisa personificada, isolada entre duas vírgulas que podem se encontrar no começo, meio ou fim da frase ou oração. Ele é uma das marcas de um diálogo, quando você (falante) fala algo a alguém (ouvinte). Como omo amante das letras, fiquei inquieta com os erros presentes na obra. Peguei um lápis e sai marcando o meu exemplar todo, corrigindo o que dava, mas depois perdi a paciência e dei uma chance a história.


No começo, foi difícil me concentrar na trama, mas justamente quando comecei a passar batido pelas falhas é que me encantei com a história criada por Liana. Em uma sacada completamente original, ela usa referências aos rituais e a cultura indígena brasileira. A descrição de uma cerimônia no Alto Xingu foi, para dizer o mínimo, surpreendente. É muito bom ver autores que se esforçam em resgatar e divulgar nossa cultura nacional mesmo em tramas fantásticas. Em meio a essa geléia americanizada que domina nossas estantes e as cabeças de nossos jovens leitores, é muito agradável ver as tradições de nossos antepassados e colegas indígenas e latino-americanos ao lado de cenas eletrizantes de ação e fantasia. Deixo os meus mais sinceros desejos de sucesso para a Liana e espero ansiosamente por uma edição revisada do livro, permitindo que todo o brilho da história se revele.


>> Resenha originalmente postada no site www.up-brasil.com

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